Quem foi Jean-Claude Bernardet?
Nascido na Bélgica, Bernardet construiu sua vida e carreira no Brasil, tornando-se uma figura indispensável para entender a sétima arte produzida aqui. Sua chegada ao país marcou o início de uma relação profunda e, por vezes, conturbada com a produção nacional. Ele não era um mero espectador estrangeiro; ele mergulhou na cultura brasileira, adotando-a como sua e, a partir dessa perspectiva única, ofereceu análises que mudaram para sempre a forma como o cinema brasileiro era visto, tanto interna quanto externamente.
Sua trajetória acadêmica, principalmente na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), formou gerações de cineastas, jornalistas e críticos. Seus livros, como “Brasil em Tempo de Cinema” e “Cineastas e Imagens do Povo”, são bibliografia obrigatória e continuam a ser uma referência fundamental para quem deseja se aprofundar nos estudos de cinema.
O Legado Inovador de Bernardet para o Cinema
O que tornava o trabalho de Jean-Claude Bernardet tão especial era sua recusa ao óbvio. Ele não se contentava em apenas descrever um filme; ele o dissecava, investigava suas entranhas políticas, sociais e estéticas. Muitas vezes, suas críticas eram consideradas “desconfortáveis”, pois apontavam contradições e ideologias ocultas que muitos preferiam ignorar. Era um crítico que não tinha medo de ser impopular para ser honesto e profundo em suas colocações.
Além da Crítica: O Artista e o Professor
É impossível limitar Bernardet à cadeira de crítico. Ele também se aventurou por trás das câmeras, dirigindo e atuando em diversos filmes. Essa experiência prática lhe conferiu uma autoridade ainda maior, pois ele entendia o processo de criação cinematográfica por dentro. Como ator, teve participações marcantes em filmes como “Filmefobia”, de Kiko Goifman, mostrando uma faceta performática que complementava seu rigor intelectual.
A Influência de Jean-Claude Bernardet no Cinema Marginal
Um dos capítulos mais importantes de sua carreira foi o seu apoio e análise do Cinema Marginal, movimento que rompeu com as estéticas tradicionais nos anos 1960 e 1970. Enquanto muitos torciam o nariz para a radicalidade de cineastas como Rogério Sganzerla e Júlio Bressane, Bernardet enxergou ali uma potência criativa e uma resposta visceral às contradições do Brasil da época. Conforme destacado em diversas homenagens, como as publicadas pela Folha de S.Paulo, sua capacidade de legitimar e teorizar sobre esses movimentos foi crucial para a sua preservação histórica.
Uma Figura Emblemática de São Paulo
Bernardet era também uma figura icônica da cidade de São Paulo. Residente do famoso Edifício Copan, no centro da capital, ele vivia imerso na efervescência urbana que tanto o inspirava. Sua morte, confirmada no sábado, como noticiado pelo portal G1, ocorreu em seu apartamento, deixando uma lacuna não apenas no meio acadêmico, mas também no imaginário cultural da metrópole.
O Cinema se Despede: A Importância de Bernardet
A partida de Jean-Claude Bernardet não é apenas a perda de um grande intelectual, mas o silêncio de uma voz que ousou pensar o Brasil através de suas imagens em movimento. Seu legado não está apenas em seus textos e filmes, mas na mentalidade crítica que ajudou a forjar. Ele ensinou que o cinema é um campo de batalha de ideias, um espelho de seu tempo e, acima de tudo, uma forma de arte que exige paixão, inteligência e coragem. O cinema brasileiro, sem dúvida, deve muito a este mestre belga de coração brasileiro.