No panteão dos deuses do rock, poucas figuras são tão monumentais quanto os guitarristas das duas maiores bandas britânicas de todos os tempos. De um lado, o riffmaker incansável dos Rolling Stones. Do outro, o arquiteto sonoro do Led Zeppelin. Quando personalidades tão fortes colidem, as faíscas podem iluminar o cenário musical por décadas. Foi exatamente o que aconteceu quando uma declaração ácida de um gerou uma resposta magistralmente contida do outro, criando um dos capítulos mais fascinantes da história do rock.
O Início da Polêmica: A Crítica de Keith Richards
Tudo começou quando Keith Richards, em sua maneira caracteristicamente direta e sem filtros, decidiu compartilhar sua opinião sobre o Led Zeppelin. Em uma entrevista que repercutiu mundialmente, Richards não poupou palavras ao classificar o som da banda como “oco”. Para ele, apesar de reconhecer o talento de seus membros, faltava uma alma, um balanço genuíno. Conforme reportado por diversas fontes, incluindo a Guitar Player, ele afirmou: “Eu amo Jimmy Page, mas como banda, não. O John Bonham foi um baterista incrível, mas quando ele não estava lá, o som ficava vazio”.
A crítica de Richards foi ainda mais profunda, questionando a originalidade e a profundidade musical do Zeppelin. Ele via a banda como um produto de um virtuosismo técnico que, em sua visão, não se conectava com a crueza e a essência do blues que tanto inspirou os Rolling Stones. A rivalidade entre Keith Richards e Jimmy Page não era nova, mas essa declaração pública colocou fogo em um debate que há muito fervia nos bastidores.
A Resposta Elegante de Jimmy Page
Diante de uma alfinetada tão direta de um colega de profissão, muitos esperariam uma resposta à altura, talvez um contra-ataque verbal. No entanto, Jimmy Page optou por um caminho diferente: o da elegância e da classe. Ao ser questionado sobre os comentários de Richards, Page demonstrou uma calma surpreendente, provando que o silêncio, ou a contenção, pode ser mais poderoso que qualquer insulto.
De acordo com uma matéria do Yahoo Entertainment, a resposta de Page foi um misto de respeito e uma sutil ironia. Ele disse: “Keith pode dizer o que quiser. Ele é Keith Richards”. Page continuou, afirmando ser um grande fã dos Stones e que tinha notado Richards parecendo “um pouco cansado” ultimamente, uma observação que, embora pareça inofensiva, carrega um peso significativo vinda de um músico para outro. Ao invés de alimentar a briga, Page a neutralizou, colocando-se em uma posição de superioridade serena.
Contexto Histórico: Gigantes em Perspectiva
Para entender a dinâmica entre Keith Richards e Jimmy Page, é crucial analisar o contexto de suas bandas. Os Rolling Stones emergiram da cena de blues britânica, com um som visceral, focado no ritmo e na atitude. Eles eram os “bad boys” do rock, com uma abordagem mais terrena e direta.
O Led Zeppelin, por outro lado, levou o rock a um patamar épico e teatral. Page, um exímio músico de estúdio antes de formar a banda, era um mestre na construção de paisagens sonoras complexas, misturando hard rock, folk, psicodelia e mitologia. Enquanto os Stones eram sobre o groove, o Zeppelin era sobre a grandiosidade e a experimentação. Essas diferenças filosóficas são a raiz da crítica de Richards e da postura distinta de Page.
O Peso de uma Opinião no Rock
A razão pela qual essa troca de farpas se tornou tão icônica é o status de ambos. Não se trata de uma briga qualquer, mas de um debate entre dois dos arquitetos do rock moderno. A opinião de Keith Richards sobre música tem um peso imenso, moldada por décadas de sucesso e uma dedicação quase religiosa ao blues. Da mesma forma, a resposta de Jimmy Page, como detalhado pela Parade, reflete a mentalidade de um artista que sempre esteve mais focado em sua própria visão musical do que nas opiniões externas.
Essa “treta” não diminui o legado de nenhum dos dois. Pelo contrário, ela humaniza esses ícones e enriquece a mitologia do rock, mostrando que, mesmo no Olimpo da música, existem visões, egos e filosofias conflitantes.
Legado Intacto: Keith Richards e Jimmy Page Hoje
No final das contas, a poeira baixou, mas a história permaneceu. A polêmica serviu para destacar as personalidades contrastantes que definiram suas carreiras. Keith Richards continua sendo o guardião da chama do rock’n’roll autêntico e sem rodeios. Jimmy Page, por sua vez, permanece como o feiticeiro musical, um inovador que redefiniu o que uma guitarra e uma banda de rock poderiam fazer.
Ambos deixaram marcas indeléveis na cultura popular. Seus riffs são a trilha sonora de gerações e sua influência é inquestionável. A troca de farpas entre Keith Richards e Jimmy Page é apenas um pequeno, mas delicioso, rodapé na grande enciclopédia do rock, um lembrete de que até os deuses têm suas desavenças.