O cinema brasileiro perde uma de suas maiores incentivadoras e agitadoras culturais. Aos 65 anos, a produtora e cineasta Zita Carvalhosa faleceu em São Paulo, deixando um vácuo imenso no cenário audiovisual do país. Sua partida, confirmada por familiares e amigos, marca o fim de uma era para muitos artistas e, principalmente, para o formato que ela tanto defendeu: o curta-metragem. Mais do que uma profissional do ramo, Zita foi uma verdadeira visionária, cuja principal criação, o Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Kinoforum, transformou-se na mais importante janela de exibição e fomento para novos talentos no Brasil e na América Latina.
O Legado de Zita Carvalhosa no Cinema Nacional
Falar sobre o impacto de Zita Carvalhosa é falar sobre a democratização do acesso e da produção cinematográfica. Em uma indústria frequentemente dominada por longas-metragens de grande orçamento, ela enxergou no curta-metragem uma poderosa ferramenta de expressão artística e um campo fértil para a experimentação. Sua carreira não se limitou a um único feito; ela foi uma figura multifacetada que atuou com a mesma paixão na produção de filmes e na curadoria de festivais, sempre com o objetivo de revelar novas vozes e estéticas.
Sua produtora, a Superfilmes, fundada em parceria com o cineasta Francisco César Filho, foi responsável por obras que marcaram o cinema brasileiro. Filmes como “As Boas Maneiras” (2017), de Juliana Rojas e Marco Dutra, premiado no prestigioso Festival de Locarno, e “A Ostra e o Vento” (1997), de Walter Lima Jr., são exemplos da sua capacidade de identificar e apoiar projetos de alta qualidade e relevância artística. Sua atuação ia além do financiamento; ela se envolvia profundamente nos projetos, contribuindo com sua visão crítica e sua vasta experiência.
Kinoforum: A Grande Obra de Zita Carvalhosa
A joia da coroa de sua carreira é, sem dúvida, o Kinoforum. Criado em 1990, o festival nasceu da necessidade de um espaço dedicado exclusivamente aos curtas-metragens. O que começou como uma mostra modesta, rapidamente se tornou um evento de proporções internacionais, atraindo cineastas do mundo todo e consolidando-se como um ponto de encontro essencial para a indústria. Como destacado por diversas publicações, incluindo o portal G1, Zita era a alma do festival, uma curadora incansável que via em cada filme uma oportunidade de diálogo com o público.
Uma Janela para Novos Talentos
Para incontáveis cineastas brasileiros, o Kinoforum foi a primeira grande oportunidade. Ser selecionado para o festival significava não apenas ter seu trabalho exibido para um público amplo e diverso, mas também receber a validação de uma das curadorias mais respeitadas do país. Muitos diretores que hoje têm carreiras consolidadas deram seus primeiros passos no festival criado por Zita Carvalhosa. Ela tinha um olhar apurado para identificar talentos promissores, transformando o evento em uma verdadeira incubadora de futuros mestres do cinema.
Reconhecimento e Expansão
Sob a direção de Zita, o Kinoforum não apenas cresceu em tamanho, mas também em prestígio. Ela estabeleceu parcerias com importantes festivais internacionais, como o de Clermont-Ferrand, na França, considerado a “Cannes dos curtas-metragens”. Essa articulação global permitiu que o cinema brasileiro de curta duração ganhasse visibilidade no exterior, abrindo portas para coproduções e intercâmbios culturais. Sua morte, noticiada por veículos como a Folha de S.Paulo e o Estadão, gerou uma onda de comoção no meio cultural, com depoimentos que reforçam seu papel como uma “agitadora cultural” indispensável.
Uma Perda Inestimável para a Cultura
A partida de Zita Carvalhosa, vítima de um câncer, deixa um sentimento de orfandade na comunidade cinematográfica. Ela não era apenas uma produtora ou diretora de festival; era uma mentora, uma conselheira e uma defensora ferrenha da arte. Seu legado, no entanto, é perene. O Kinoforum continua como um farol para as novas gerações, e os filmes que ela ajudou a trazer ao mundo seguirão encantando e provocando plateias. O cinema brasileiro deve muito a essa mulher gigante, cuja paixão e dedicação ajudaram a moldar a paisagem cultural das últimas décadas. Sua memória viverá em cada curta exibido, em cada novo talento revelado e em cada aplauso de uma plateia que aprendeu, com ela, a valorizar o poder das pequenas grandes histórias.